O ano era 2021…

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.. e eu já tinha mais de 365 dias de tratamento em terapia cognitiva comportamental (TCC). Quase uma matéria de ensino superior, porém, com muitos mais recursos a serem explorados ao longo do tempo [graças à Deus].

Foi o ano que tive minha primeira crise de depressão. Não queria viver. Não queria mais estar neste plano físico. A vida para mim tinha perdido a cor e o sentido literal. Deus me perdoe, mas queria que meu plano de subir aos céus fosse antecipado. Seria pedir muito? Não. Mas como tudo na vida é munido de propósitos, os planos Dele não podem ser frustrados… então os meus foram!

Quando olho para trás, percebo que pincelei por muitas vezes na tinta do suicídio. E isso ficou muito evidente quando tive uma crise nas férias de final de 2019 e queria pular de mais de 12 andares de um prédio. O alerta foi mais que acionado, e meu pós traumático resolveu me dar um presente: uma caderneta de problemas não resolvidos.

No TCC [do primeiro parágrafo!] e no desenvolvimento da terapia em si, a profissional em questão me ensinou muitas das coisas que eu replicava na minha vida em geral, inclusive nos relacionamentos.

O abandono por parte dos meus pais, os traumas da infância, as tentativas de abuso sexual [obrigada Deus por eu não ter sido uma vítima concreta e prática desse horror!], das falsas promessas e do quanto isso ia acarretar na pessoa que eu tinha me tornado. Lembrando que minha essência foi cuidadosamente guardada, mas a minha vivência me tornou um ser humano questionável.

Nada, absolutamente, para mim era duradouro. Tinha início, meio e fim. E fui muito categórica com isso por anos. Não digo que me livrei desse “hábito”, porque graças a isso, consegui concretizar muitos rompimentos necessários – tanto para minha pessoa quanto para as pessoas que deixei partir.

Mas diante de tudo isso, não podia me tornar a Morena que nasci para ser. Foi começar o tratamento com a psiquiatra, com a medicação e o alinhamento na terapia, que a minha vida deu um UP, por assim dizer. E se anos-luz atrás alguém me falasse o que de fato eu iria viver naquele ano… eu choraria sentada no meio fio da rua, enchendo a cara de baré e comendo enroladinho de salsicha até sair pelo olho [você sabia que os componentes da salsicnha demoram 32 anos para sair do corpo? E que certa quantidade de ingestão pode diminuir 35 minutos da sua vida. Surreal não!?].

Pois bem, naquele ano vendi meu carro, saí de uma casa que morava há mais de 33 anos, me casei, já tinha um cachorro, troquei de celular [curti isso pelo meu vício tecnológico], comprei um tablet e passei a odiar as interferências de vizinhos que nem sequer sabiam meu nome [porque nada é perfeito haha!].

E isso para quem lê é pouca coisa, mas para o ser humano estagnado que sempre fui, foi um show europeu. Cada dia uma cidade nova. Sem falar nas notícias que não esperava receber e que precisava fechar ciclos ou conhecer estórias por parte de uma pessoa que infelizmente faleceu antes que eu tivesse oportunidade de fazer as perguntas.

Palavras da minha psicóloga foram: “Morena, você viveu 5 anos em 1. Considere todo o processo”.

Isso foi um choque. Porque não tinha dimensão do estrago vivenciando toda essa confusão que foi o ano. Porém, obrigada Deus porque até aqui me ajudou [a lot!].